A emoção de ver a Terra com os olhos de David Attenborough
Sir David Attenborough acaba de completar 99 anos, quase um século dedicado à celebração da vida na Terra. Naturalista, documentarista, escritor e dono da voz mais reconhecível do planeta, ele relaciona a natureza com arte e emoção, despertando em cada um de nós a curiosidade infantil que conduz ao cuidado com o mundo natural.
Ao longo de mais de sete décadas, Attenborough tem nos levado através das telas a florestas tropicais, desertos, oceanos profundos e até às geleiras do Ártico. Mas mais do que nos mostrar imagens incríveis, ele nos convida a sentir, e a proteger, a extraordinária diversidade da vida. Seus documentários são obras de contemplação e urgência. Ele sabe, como poucos, conjugar beleza e alerta, maravilhamento e responsabilidade.
O começo de tudo
Nascido em Londres, em 8 de maio de 1926, David cresceu em Leicester, no interior da Inglaterra, onde desenvolveu cedo uma paixão pelo mundo natural, caçando fósseis em pedreiras abandonadas. Foi em 1936, aos 10 anos, ao assistir a uma palestra do controverso conservacionista Grey Owl com seu irmão Richard, que algo mudou para sempre. Pela primeira vez, Attenborough ouviu que os humanos estavam colocando a natureza em perigo. Essa ideia o acompanharia por toda a vida.
Formado em ciências naturais pela Universidade de Cambridge, ele entrou na BBC em 1952 e logo revolucionou a maneira como o público via o mundo natural. Seu primeiro grande sucesso foi Zoo Quest (1954), onde os animais eram filmados em seu habitat, algo inédito na época. Foi com a série Life on Earth (1979) que ele conquistou o planeta. Com 13 episódios e uma escala técnica monumental, a série foi assistida por cerca de 500 milhões de pessoas. Um dos momentos mais emblemáticos da série, e também da televisão mundial, foi o encontro de Attenborough com gorilas da montanha em Ruanda, capturado com uma sensibilidade que transcende a tela.
A arte de inspirar
David é um contador de histórias que nos envolve com a poesia das imagens e a intensidade das palavras. Sua “narração na voz de Deus“, como cunhou o New York Times, é uma sinfonia de reverência à vida. Cada cena que ele descreve carrega uma emoção sutil, como se falasse com o coração de cada espectador.
Ao longo dos anos, seu trabalho ficou cada vez mais marcado pelo ativismo. Mesmo que tenha demorado a aderir à causa climática, itindo publicamente em 2005, após uma palestra transformadora do cientista Ralph Cicerone, que “não tinha dúvidas” sobre as mudanças climáticas, desde então tem usado sua influência para alertar sobre o colapso ecológico em curso. Documentários como The Blue Planet, Our Planet e A Life on Our Planet transformaram-se em verdadeiros manifestos ambientais. E não é por acaso que, em 2021, Attenborough recebeu o título de “Campeão da Terra” das Nações Unidas, a maior honraria ambiental do planeta.
Lançamento marca seu aniversário
Ao se aproximar de seu 99º aniversário, Sir David apresenta Ocean, seu novo documentário no contexto de sua notável vida e carreira, estudando e refletindo sobre os oceanos como a última parte do mundo a ser totalmente compreendida e também, talvez, a última a ser explorada e saqueada.
Como ele mesmo afirma, até relativamente pouco tempo atrás, o oceano era considerado uma espécie de Saara misterioso e indiferenciado, uma região selvagem, de interesse principalmente por fornecer um suprimento aparentemente infinito de alimentos. Ocean nos mostra uma vista incrível de diversidade e vida, uma paisagem ondulante extraordinária, um segundo planeta gigante cuja existência a humanidade há muito desconhece, mas que agora parece estar em perigo de danificar ou mesmo destruir. Mais uma vez, Attenborough nos lembra que a contemplação da beleza deve vir acompanhada de responsabilidade e urgência.
Uma vida em nomes, memórias e legados
Cerca de 50 espécies foram nomeadas em sua homenagem: sapos, plantas carnívoras, moluscos e até fósseis de répteis marinhos. Contudo, o maior legado de Attenborough talvez seja como ele nos fez sentir. Seus documentários nos lembram de algo essencial: só protegemos aquilo que amamos, conhecemos e que nos conectamos. E para amar, é preciso ver, com olhos de encantamento, com o espírito de descoberta, com a ternura de quem entende que fazemos parte deste mesmo planeta.
Como ele mesmo disse ao presidente Barack Obama, em 2015: “Nunca conheci uma criança que não estivesse interessada na história natural. A pergunta não é por que algumas se interessam, mas como outras perdem esse fascínio.”
Aos 99 anos, David Attenborough continua nos provocando e inspirando a seguir na luta em defesa da vida. Ao transformar ciência em arte e educação em encantamento, ele inspira gerações a cuidar da Terra como se cuida de um lar. Suas histórias nos lembram que a natureza não está separada de nós, nós somos natureza e fazemos parte dela.
Feliz aniversário Sir David Attenborough e muito obrigada por esse maravilhoso legado. Que sua inspiração alcance ainda mais pessoas ao redor do planeta.
Autora: Thamara Santos de Almeida.
Revisão: Vitor Lauro Zanelatto e Miriam Prochnow.
Foto de capa: William Murphy/Informatique, CC BY-SA 2.0 via Flickr.